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Em carta, mãe acusa Inep de discriminar pessoas com deficiência visual no Enem 2018

Começou a circular hoje pelas redes sociais uma carta escrita por Rosangela Gera, da cidade de Colatina (Espírito Santo), acusando o Inep e o Ministério da Educação de discriminação contra pessoas com deficiência visual na realização da prova do Enem 2018.

"Em pleno século 21, para o enem 2018, aos alunos cegos é permitido: um ledor para as provas e um transcritor de suas respostas. A prova de redação? Redigirão em braile e depois irão ditá-las ao transcritor. O que será que fariam os estudantes que enxergam e suas familias, se no edital do Inep para o enem fossem proibidos de usar lápis, canetas, e a leitura em tinta?, Se de repente lhe fossem negados os recursos com os quais se habituaram durante toda a vida escolar?", afirma na carta.

O IPC também se indigna com esta situação. Leia abaixo nota do diretor Ênio Rodrigues da Rosa:

"O IPC é solidário e compartilha integralmente com a crítica da mãe sobre a falta de acessibilidade às pessoas cegas nas provas do ENEM. O que acontece nas provas do ENEM reflete a dura realidade dos estudantes cegos ou com baixa visão de todo o País.

Ontem, no Congresso Nacional, assistimos a um ato de comemoração dos 30 anos da Constituição de 1988, a chamada Constituição Cidadã. Infelizmente, os direitos previstos na lei maior do País refletem apenas a realidade do que chamamos de "direito no plano formal", mas não garante a efetiva concretização do direito ao plano da realidade objetiva da vida das pessoas.

É assim na educação, no trabalho e em tantos outros campos ou áreas das políticas sociais. Temos, como dizem os nossos governantes - e até com um certo orgulho - , a melhor legislação específica do mundo, no caso das pessoas com deficiência. Pena que fica somente no bonito discurso".

 

Confira abaixo a íntegra da carta, publicada no Portal da Deficiência Visual e outras páginas no Facebook.

"INEP discrimina deficientes visuais nas provas do ENEM.

Carta de uma mãe ao Inep e ao Ministério da Educação:

Enquanto escrevo esse documento, minha filha de 16 anos, estudante com deficiência visual, realiza a prova do enem 2018.

Na noite anterior, o Ministro da educação comemora 20 anos de realização da prova pelo Inep e ressalta as condições de acessibilidade da mesma. E eu indignada assisto seu pronunciamento enquanto vejo minha filha colocar na sua mochila não o seu computador para realizar a prova, mas pasmem!, uma máquina de escrever em braille!

Em pleno século 21, para o enem 2018, aos alunos cegos é permitido: um ledor para as provas e um transcritor de suas respostas. A prova de redação? Redigirão em braile e depois irão ditá-las ao transcritor.

O que será que fariam os estudantes que enxergam e suas familias, se no edital do Inep para o enem fossem proibidos de usar lápis, canetas, e a leitura em tinta?, Se de repente lhe fossem negados os recursos com os quais se habituaram durante toda a vida escolar?

Será que haveria uma grande repercussão na mídia? Será que manifestações na porta das escolas impediriam a entrada dos alunos que aceitassem essa situação? Provavelmente sim!

E o que podem fazer estudantes com deficiência visual e suas famílias diante da recusa do Inep em aceitar que utilizem o computador com o qual estudam, assistem aulas e realizam provas em seu dia a dia escolar?

O que fazer diante dessa flagrante discriminação com esse grupo de estudantes?

Discriminação sim porque o termo por definição representa toda restrição com efeito prejudicial e a Lei é muito específica, discriminar significa "... a recusa de adaptações e de fornecimento de tecnologias assistivas." E é claro que o prejuízo é retirar desses alunos a sua capacidade de concorrer em condições de igualdade.

Experimentem responder provas cansativas, com toda ansiedade envolvida no contexto, com alguém lendo essas questões, são sotaques, pronúncias, entonação, tudo isso precisa ser assimilado de imediato, existe um relacionamento que precisa ser estabelecido ali na hora com um desconhecido, uma confiança que precisa ser conquistada.

Acharam complicado, não? E a A prova de redação? terá que ser ditada. E se o transcritor escrever uma palavra errada? Sucessão? Dois S? Ç? Obstáculo? b mudo?Bom, " a prova será ditada!!! " isto está escrito no cartão de identificação!

Quer dizer que o transcritor sequer terá dominio da escrita braile!?!? 
Tudo isso faz parte do universo de preocupação do estudante cego, o que por si só já o coloca em desvantagem, pois enquanto isso, os seus pares estão preocupados apenas em estudar matemática, física, química, ou com o tema da redação.

Então é por esse direito, vejam bem, direito e não privilégio, que em nome desses estudantes e de suas famílias que peço a vocês, cidadãos de bem desse país, que realmente acreditam que só vamos melhorar como nação quando aprendermos que lei é para ser cumprida e não escrita e aprovada apenas. É para voces que peço, divulguem, tornem esse fato de conhecimento do maior numero possível de pessoas para que promotores e juizes, façam a intervenção necessária e exijam que o Inep se ajuste a Lei e evitem que estudantes com deficiência visual precisem retroceder em vez de avançar em suas conquistas e principalmente para que esses alunos possam de fato estar na competição em condições de igualdade.

Lei Brasileira de Inclusão: " Art. 4o Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação."

Rosangela Gera, médica, Colatina ES"

 

Fonte: Portal da Deficiência Visual

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